quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Blogs vs Vulcões

Dei-me conta que os blogs e os vulcões têm uma certa semelhança.

Segundo o wikipédia:
Um vulcão é uma estrutura geológica criada quando o magma, gases e partículas quentes (como cinzas) escapam para a superfície terrestre. Eles ejectam altas quantidades de poeira, gases e aerossóis na atmosfera, interferindo no clima.

Um blog é um site cuja estrutura permite a atualização rápida a partir de acréscimos dos chamados artigos, ou posts. Estes são, em geral, organizados de forma cronológica inversa, tendo como foco a temática proposta do blog, podendo ser escritos por um número variável de pessoas, de acordo com a política do blog.

Assim como os vulcões os blogs não estão sempre em "erupção", existem os activos, os dormentes e os extintos.

Assim como entre os especialistas em vulcões, não há consenso para definir o que é um vulcão activo, também na blogosfera não sabe-se definir o que é um blog activo.

Contudo tomemos aqui como definição que os blgos activos, são aqueles que aparentam ser mais agitados, provocam grandes erupções (posts), jorram lavas (comentários) e ainda libertam gases que podem por exemplo fechar espaços aéreos ou iniciar uma manifestação/revolução.

Os dormentes são aqueles que mesmo não estando sempre em actividade, podem de repente lá se irritarem com a crosta terrestre (noticia, facto que mereça ser postado, causo pessoal etc etc) e soltar um grande pum (post). Detalhe podem (ou não) provocar os mesmo fenómenos de um blog activo.

Existem também os blogs extintos. Por definição não provocam nenhuma erupção, não jorram lavas e nem libertam gases. Ou seja são inofensivos. Porém atenção neles, muita atenção neles, porque vários considerados extintos voltaram à tona com toda a força e provocaram grandes danos. Mudam de layout, mudam de fonte energética, até mudam de nome e roupagem e ganham força. Portanto olho vivo neles.

Quanto à tipologia dos vulcões, tudo irá depender do tipo de material que o dito cospe para fora.
Se o material é "ácido" tem tendência a se solidificar rapidamente. Se por outro lado o material for "básico" tem tendência a escorrer por longas distâncias.

Creio serem essas as semelhanças entre blogs e vulcões.
Resta-me dizer que os blogs com suas "erupções", de uma forma ou de outra têm vindo a contribuir ainda que de forma subtil para mudar o panorama mundial. Têm provocado a reflexão e o debate critico, têm suscitados questionamentos e algumas vezes apresentando soluções...o ano de 2011 penso que fica marcado por isso.

Portanto, quer sejam eles activos, dormentes ou extintos, que jorrem mais lava e que libertem mais gases em 2012.

sábado, 17 de dezembro de 2011

Imortal

"Oh mar dêta kitin bô dixan bai..."

Encheu a tod@s nós de orgulho de sermos cabo-verdian@s.
Ao sermos questionados: "de onde és?", a resposta era quase sempre a mesma, "de Cabo Verde, terra da Cesária Évora"...resta-nos dizer, descansa em paz e um muitíssimo obrigado! Serás sempre a imagem de Cabo Verde.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Partilha

"Os dias de gastar dinheiro que não temos em coisas das quais não precisamos para impressionar as pessoas com as quais não nos importamos chegaram ao fim"
Tim Jackson

Nomes

Ando por estes dias à procura de nomes…

Os nomes nos identificam como pessoas, como seres humanos. Quando nascemos os nossos pais e as nossas mães já têm pelo menos três nomes em mente para nos atribuir. E muitas das vezes tomam por base, os seus próprios nomes, os nomes de outros familiares, homenageiam amig@s, personalidades, jogadores de futebol, actores, actrizes, mártires, nomes com um significado (para isso procuram o livro dos significados dos nomes), etc etc, tudo para que tenhamos uma identificação que será nossa senha para o mundo. É um direito previsto do ser humano a ter um nome.

Na mesmo lógica, tudo que gira à nossa volta tem um nome, porque existe essa tal necessidade de identificarmos as coisas com alguma lógica, alguma concordância, ou mesmo uma origem, daí que: os objectos têm nome, os animais, as plantas, os livros, os filmes, as peças de teatro, os quadros artísticos, as esculturas, as marcas, as bebidas, os modelos, os códigos, as páginas cibernéticas, os blogues, as operações bancárias, as operações policiais, as guerras, os acontecimentos, as revoluções, os tratados de paz, as invasões, os jornais, as manchetes, os furacões, os ciclones, as empresas, os programas, os projectos, os planos, os meses, as semanas, os dias, as situações etc etc…tudo para um propósito, identificação, caracterização…

Falando em nome de empresas, lembrei-me da ELECTRA, porque este nome e não outro? Ora porque é o nome que mais se identifica e que caracteriza uma empresa que é responsável pela produção e distribuição de energia e água de Cabo Verde, daí que nada mais conveniente que este nome, não poderia ser outro (até que poderia, mas este serve).
Contudo, a mesma empresa vive uma situação que não condiz com seu nome, com seu propósito ou seja não há uma correlação nome vs. identificação. Então ajudem-me lá a procurar um nome que identifique e caracterize a situação actual (eu não diria que é actual, mas prontos…) da dita empresa.

A situação dos responsáveis que insistem em nos fazer crer que tudo está bem, também tem um nome.
A situação da sociedade civil que insiste em não ver, não ouvir e não falar, também tem um nome.

….e não são favas contadas.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Divulgando Campanha




A campanha UNITE to end violence against women lançou um concurso sobre design de t-shirts que tivessem mensagens no sentido de erradicar todas a formas de violência contra as mulheres assim como representar os conceitos de igualdade, não discriminação e respeito.

Soube que tivemos uma candidatura de Cabo Verde, Filomeno Rodrigues (Dudu Rodrigues).

Penso que ele conseguiu reunir os requisitos todos exigidos, de qualquer forma, vale pela iniciativa e esforço.

Vamos apoia-lo, e votar no seu trabalho, é só clicar no link a seguir, e buscar por nome ou região:

http://unitetshirtcompetition.org/es/entries/africa

O trabalho dele é o que tem o titulo: "Be a Shield Against Violence"


Correção: afinal temos mais uma candidatura de Cabo Verde. Uteldino Jorge Furtado. "We are differente, but not unequal"




terça-feira, 27 de setembro de 2011

Eureka


Já sei. Descobri qual é a estratégia de nos deixar sem água e sem luz.
Pensei lá comigo. Segundo as previsões, a tal crise financeira (aquela que alguém disse que nunca chegaria aqui) chegou a Cabo Verde (só agora…!??). Para contornar essa crise há que se fazer de tudo, afinal não queremos ficar sem os nossos “luxos”, nem que para isso teremos que ficar sem luz e água.
Raciocínio: Quando não há luz, ainda mais com este calor, ficamos em casa ou saímos para dar uma voltinha? Saímos para passear não é. É só a movimentação mais do que p normal pela capital nos dias sem luz. Ora para sairmos para uma voltinha é preciso carro (próprio ou táxi), se for próprio, lá vão 1000$00 de combustível, se for táxi no mínimo 500$00. Imaginemos que saímos por exemplo com as crianças, lá vai um gelado, umas pipocas, algodão doce, refrigerantes, uma pizza, etc etc…e se for com @s amig@s, lá vão umas cervejas, umas bafinhas etc etc… tudo isto faz movimentar a nossa economia, já dizia o outro, dinheiro parado é dinheiro morto. Estão a acompanhar?
Poderão dizer: mas quando estamos sem luz, aumentam os assaltos nas ruas. Sim aumentam, afinal o mundo do crime também não pode ficar parado. Hoje assalta aqui, amanhã gasta ali. E assim entramos no ciclo da economia.
Ora não sejamos ingratos. Toda esta situação pela qual estamos a passar é na verdade um sacrifício à estratégia do governo para que não sejamos confrontados com a crise, e sejamos capazes de ultrapassa-la sem nos darmos conta.
Falta o raciocínio da água, creio que deverá ser na mesma lógica, ou qualquer coisa parecida. Mas deixo à vossa imaginação. Eu já fiz a minha parte.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Opressão



Opressão é o efeito negativo experimentado por pessoas que são alvo do exercício cruel do poder numa sociedade ou grupo social. O termo deriva da ideia de ser "esmagado". In Wikipédia.
É nada mais, nada menos do que um desequilíbrio de poder.
Alguém disse-me uma vez que somos oprimid@s e opressores ao mesmo tempo. Vivemos numa constante dinâmica de sermos dominador@s e dominad@s. Muitas das vezes sem nos darmos conta disso, tal é a linha ténue que define esse espaço.

Será que existe uma “fórmula” para contornar esse cenário. Prefiro acreditar que sim, contudo não creio que a tal “fórmula” seja uma constante, seja estática, muito pelo contrário.
Para tal @ oprimid@ tem que ter a noção de desequilíbrio de poder, tem que manifestar o desejo/vontade de lutar contra a opressão sem o intuito de se tornar @ opressor@, levando sempre em consideração que o desejo e a necessidade têm que andar juntos.

Tive contacto pela primeira vez, de forma directa, com a metodologia do Teatro do Oprimido (TO), num WorkShop que aconteceu semana passada, na Cidade da Praia.
A metodologia do TO, talvez possa ser considerada a tal fórmula para contornar uma situação de opressão, para além de provocar reflexão e debate sobre o quotidiano que nos rodeia. Aliás, esse é seu objectivo primordial.
O TO é uma encenação/dramatização teatral que retrata a realidade e suas problemáticas, é uma ferramenta de intervenção comunitária, política e social onde @s participantes provocam uma reflexão do público e uma interacção com o mesmo, buscando sempre uma mudança, ou seja transformar/contornar a situação de opressão.
Mas creio poder acrescentar mais alguma coisa, teatro do oprimido é uma filosofia de vida. Quem faz teatro do oprimido e vê a força e a dinâmica que provoca, não consegue mais ficar indiferente aos problemas que o rodeiam. Tentará através do TO sempre chegar a uma melhor situação.
Porque afinal de contas tod@s somos actores e actrizes de uma encenação teatral. A vida.

Bem-haja ao Teatro do Oprimido, que ganhe força e consistência com @s grupos que acabaram de formar, e que se espalhe por todo Cabo Verde.

Obrigado GTO-LX.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

R.I.P



Aristides Maria Pereira (1923-2011)
Primeiro Presidente da Republica de Cabo Verde

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Identidade Desportiva

A nossa seleção nacional de futebol masculino, os Tubarões Azuis, jogaram no sábado mais uma partida a contar cara qualificação do CAN’12, contra a seleção do Mali.
Em jeito muito resumido, os Tubarões Azuis, entraram no jogo relativamente bem concentrados, buscando conter os intermináveis ataques do adversário, e tentado algumas tímidas ameaças à baliza contrária. Contudo a pressão do adversário foi tanta que Cabo Verde acabou por ceder e sofremos logo de rompante 2 golos, que desmotivam qualquer estratégia montada. Na segunda parte a seleção do Mali digamos que se “conteve”, geriu o jogo, desferiu o golpe final fazendo o terceiro golo e esperou pelo apito final do árbitro para assumir a liderança do grupo.

Mas o propósito deste texto vai noutro sentido.
Questionar quem soube do jogo da nossa seleção? Quem acompanhou pela rádio (visto que TV era impossível) o jogo da nossa seleção? Quem conhece/conhecia os jogadores, o percurso da nossa seleção? Quem são os patrocinadores da nossa seleção? Enfim, as pessoas se identificam com a nossa seleção?

Creio ser urgente uma identificação urgente com os Tubarões Azuis, e outras modalidades desportivas, é chegada a hora de se fazer um trabalho de marketing e publicidade daqueles que vestem a camisa e carregam a bandeira de Cabo Verde. Eu vejo isso não como uma forma de patrocínio financeiro, mas sim como patrocínio moral, motivação, orgulho, compromisso, afecto, respeito, consideração, carinho especial para com esses atletas.

Faz-me muita confusão, embora também seja um acompanhante e torcedor do futebol internacional, ver a nossa televisão pública fazer marketing e publicidade, oferecer viagens e brindes, para assistir os jogos da Liga Portuguesa, promovendo a campeonato além fronteiras. Quando digo TCV, digo outras empresas nacionais. Faz-me confusão sermos torcedores ferrenhos (de clubes estrangeiros até entendo), de seleções estrangeiras, Brasil, Argentina, Portugal, Alemanha, Inglaterra, etc etc…somos capazes de elencar os 23 selecionados dessas seleções e no entanto temos dificuldade em fazer o 11 da nossa seleção.

Creio ter uma resposta (sem presunção). Não nos sentimos identificados com a nossa seleção, com o nosso desporto, porque não fazemos o trabalho de casa bem feito. Continuamos achar que o que vem de fora é que é melhor/bom. Nisso as empresas nacionais reflectem e reproduzem esse conceito. Para elas é impensável investir no desporto cabo-verdiano porque não dá lucro, não compensa. Não as culpo, afinal têm que pensar como empresários que são.

Mas lanço outra pergunta, e a Federação Cabo-verdiana de Futebol? Não deveria estar ela a tentar reverter este cenário, reverter este conceito que insiste em prevalecer por estas bandas!?

Para quem vive, ou já viveu no estrangeiro, sabe que os atletas são apoiados incondicionalmente. Para dar um exemplo que tive mais contacto, no Brasil chega a ser ao mesmo tempo, contagiante, emocionante e irritante a forma como os atletas que representam o Brasil em qualquer modalidade são tratados. Não são nada imparciais quando se trata de representar o país, muito pelo contrário, torcem, xingam, gritam, apoiam, motivam, rasgam elogios, e acima de tudo acreditam. O carinho que as pessoas lhes transmitem, é fruto de um trabalho que os media, principalmente, implementam, fazendo com haja uma espécie de cumplicidade mutua, um respeito e acima de tudo uma identidade.

Há que se criar uma identidade o com desporto cabo-verdiano no geral, tendo em atenção os Tubarões Azuis.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

O Denominador Comum

É um número m inteiro positivo menor possível e que seja ao mesmo tempo múltiplo entre dois denominadores (a e b).
Encontrar o denominador comum facilita quando efectuamos operações de adição ou subtracção com fracções não equivalentes. Digamos que o denominador é parte determinante de uma fracção, ele “anuncia” o número de partes em que será “decomposta” uma determinada quantidade e o numerador representa quantas parcelas da quantia dividida. Lembro também que uma fracção é uma relação simultânea entre o denominador e o numerador.
Posto isto, vejamos como se encaixam algumas noções.
Porque envolver os homens na promoção da igualdade de género?
Já todos e todas sabemos que (ou pelo menos, creio que sim), que a causa das desigualdades que existem entre homens e mulheres é o facto de insistentemente atribuirmos às diferenças biológicas, como determinante para nossas acções, comportamentos, atitudes, etc. Socialmente e culturalmente somos pré-destinados.
Desde sempre isso causou algumas separações, entre o espaço masculino e o espaço feminino na sociedade. Aconteceu com a divisão sexual do trabalho, aconteceu na política, no mercado de trabalho (espaço publico) e no lar, na comunidade, no bairro (espaço privado). Implicavam assim situações de desigualdade de poder.
Para contornar esta situação, políticas de promoção da mulher são levadas a cabo, dá-se a emancipação da mulher, têm mais acesso à saúde, mais acesso à educação, mais acesso na obtenção de crédito, mais acesso à política. Ainda assim as desigualdades persistem.
Respondendo agora há pergunta feita em cima, o problema centra-se no comportamento das pessoas, nas atitudes, nas mentalidades, na predisposição à mudança dos homens. Há que alterar maneira como os homens encaram primeiro sua masculinidade depois as mulheres e as acções/comportamentos delegadas a elas socialmente. Ele é o tal denominador comum.
Não estou querendo dizer com isso que os homens não assumem a sua masculinidade. Mas sim repensarem sua forma de estar, seus comportamentos e como esses afectam tanto os mesmos quanto outrem.
Desde sua adolescência (eu diria mesmo, desde antes de nascermos) os homens assumem uma masculinidade que lhes é imposta socialmente como hegemónica. São privados de afectividade, atenção, ternura, etc… e são “autorizados” a desenvolverem sentimentos que provoquem ira, agressividade, audácia, prazer, prepotência, (…) Naturalizamos esses comportamentos porque consideramos que os homens tem menos necessidades que as mulheres, não se preocupam com a saúde, são agressivos e violentos natos, enfrentam situações de risco mesmo que isso ponha em causa sua própria integridade física para provarem que são fortes, machos, provedores.
Resulta que os homens pouco se envolvem com o cuidado com eles próprios, com a saúde, prevenção de doenças, estão envolvidos nas maiores taxas de morte por acidente de viação, por suicídio, violência (gangues e formação de quadrilhas), estão envolvidos nas menores taxas de aproveitamento escolar, estão envolvidos nas taxas de maior consumo de álcool e drogas, e poderia ficar aqui horas e horas elencando tantas outras situações onde o homem é o tal denominador comum.
É fundamental que se ultrapasse barreiras impostas socialmente e culturalmente para que desigualdades sociais e económicas diminuem.
É necessário repensar por exemplo a hierarquia nas relações entre homens e mulheres, reflectir sobre as necessidades específicas dos jovens em relação à sua saúde, ao seu processo de socialização, atribuir responsabilidades aos homens em relação aos seus comportamentos e à sua sexualidade e principalmente é necessário um compromisso, uma predisposição à mudança. Isso significa que passarão a reconhecer os direitos de cada um, independentemente de raça, género, classe social, origem étnica, crença religiosa, deficiência física ou mental, idade ou orientação sexual.
Existe hoje uma tendência, um tabu que precisa ser quebrado, “os homens são todos iguais”, ou seja todos potenciais agressores, não cuidam nem de si próprios quanto mais de outrem, irresponsáveis. Essa tendência provoca uma profecia auto-cumpridora.
Os homens têm de ser vistos como aliados e não como obstáculos. Merecem atenção devida, para serem respeitosos, cuidadosos, responsáveis, para “negociarem” através do diálogo e da partilha suas relações com harmonia ao invés da violência.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Quem somos?

Temos uma tal necessidade de saber de onde as pessoas são, de que família…”kenha ke bus guentis?”

Não sei se é uma característica comum de ambientes, lugares intimistas, onde as pessoas são próximas, se conhecem umas às outras. Talvez seja isso. Deixo isso para os antropólogos.

Essa necessidade, nos leva a criar juízos de valores e formulamos opiniões desta ou daquela pessoa, conforme sua filiação.

Isto talvez não aconteça somente nesses casos, acontece por exemplo, em relação à posição politico-ideológica da pessoa, da formação académica (ou profissional) da pessoa, de que desporto essa pessoa gosta, o que come, o que veste, etc etc…

Somos imbuídos de pré-conceitos, carregas ideias pré-concebidas das pessoas que estão à nossa volta. Parece que possuímos uma base de dados com informações de todo o tipo. Ao conhecermos uma pessoa, começa logo o processamento de identificar quem é essa pessoa.

Não nos damos ao trabalho, na maioria das vezes, de sequer procurar o misterioso, de descobrir o “tesouro” que é cada ser humano.

Creio que precisamos nos despir de certos preconceitos, carregar apenas o que é positivo, termos alma e coração livres. Estarmos dispostos a nos entregar ao mistério da vida, tocar, ver, sentir, cheirar. Afinal os cinco sentidos que possuímos também servem para isso, para descobrir quem somos.

Impotência

Vive-se assim no país da impunidade.
Falta luz e água e ninguém é responsabilizado por isso.
Políticos corruptos fazem e desfazem e ninguém é responsabilizado por isso. Num país a sério, mais da metade da classe política cabo-verdiana estaria a ver o sol a nascer quadrado.
Pessoas enriquecem como que num passe de mágica, e ninguém é responsabilizado por isso.
Existe tráfico de drogas, tráfico de armas, e quiçá tráfico de influências, e ninguém é responsabilizado por isso.
Existe um “mercado negro” de divisas mesmo em frente ao Banco Central, e ninguém é responsabilizado por isso.
Existem casos e mais casos de nepotismo na administração pública, e ninguém é responsabilizado por isso.
Balas perdidas, assassinatos (para não dizer execuções), assaltos etc etc, são cometidos por jovens. A responsabilidade é das famílias. Elas deviam controlar, elas deviam ter rédea curta com esses marginais. Mas algo não bate certo. Porque será que neste caso, quando nós vemos o produto, o resultado de toda aquela impunidade, quando resolvemos tirar a peneira que nos tapa os olhos (por nossa conveniência), é que resolvemos seguir o caminho mais fácil!? Apontar o dedo á família.
Podia ficar aqui apontando situações várias que faz do conceito morabeza transformar-se em paraíso da impunidade, da corrupção, da máfia, mas creio que já se escreveu muito sobre isso.
A responsabilidade é nossa.

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Divulgando Nota

Caras companheiras e companheiros,

1. A ACCVE (Associação para Cooperação com Cabo Verde), criada em Espanha a 2003 e registrada em Cabo Verde desde 2006, é uma ONG que tem como vocação o desenvolvimento comunitário e a promoção da igualdade e equidade de género;

2. Neste âmbito, na Ilha de Santiago, tem trabalhado mais específicamente com as comunidades de Gouveia, Porto Mosquito, Salineiro e Cidade Velha;

3. Na comunidade de Gouveia, a ACCVE tem focado o seu trabalho na promoção da igualdade e equidade de género onde elegeu um grupo de cerca de 50 mulheres, com idades compreendidas entre 20 e 55 anos, que se dedicavam anteriormente à apanha ilegal da areia como meio exclusivo de subsistência para si e para as suas famílias;

4. Desde a intervenção da ACCVE (2007) as mulheres de Gouveia substituiram a apanha da areia por actividades alternativas geradoras de rendimento, tal como, tecelagem, costura, artesanato, feitura de sabão, patchwork, licores, entre outros.

5.Estes produtos são vendidos na loja "Sulada", gerida por elas com apoio da ACCVE, na Cidade Velha.

6. Esta loja trouxe uma nova e inquestionável dimensão ao turismo local ,pois passsou a ser mais uma oferta de produtos artesanais, neste caso com marca nacional/local, já que o que se vendia anteriromente eram produtos representivos do nossa região africana;

7. Além disso, esta produção e seu escoamento tem tido um grande impacto directo nas suas vidas e nas dos seus familiares em termos de renda e autoestima;

8. Tudo isto foi um processo longo/consistente e que contou com muito investimento (nacional e internacional), precedido de acções de diagnóstico, com técnicas de pesquisa-acção, com envolvimento das populações locais, em todas as fases;

9. Ao mesmo tempo, houve lugar a uma série de actividades de empoderamento das mulheres, nomeadamente alfabetização, formação em auto-estima, cidadania, reforço da democracia, combate à Violência Baseada Género; entre outros;

10. Para que tal fosse possível, a ACCVE levou a cabo um acordo verbal com a então Comissão Instaladora do Munícipio de Santiago, em 2007, que cedeu o espaço do Centro Comunitário de Gouveia, onde puderam, desde então, guardar todos os seus materiais e equipamentos, e levar a cabo a grande parte das suas acções;

11. Com efeito é para lá que as mulheres do projecto "Marra Sulada" diariamente se deslocam para trabalhar na produção;

12. Contudo, a 9 de Fevereiro de 2010, a ACCVE recebeu uma nota assinada pelo Secretário Municipal da Câmara Municipal da Ribeira Grande de Santiago (CMRGS) em que solicitava a desocupação do espaço no prazo de 1 (um) mês para instalação do Centro de Juventude de Gouveia;

13. A 10 de Fevereiro do mesmo ano, a então coordenadora do projecto respondeu pela mesma via que não estavam preparadas para dar seguimento ao pedido explicando as actividades que estavam a ter lugar e solicitando um encontro para negociação;

14. Nessa sequência, houve um encontro (25 de Maio) entre a Presidente, Alice Mascarenhas, e o Presidente da Câmara, Manuel de Pina, em que foi acordada uma solução mista de adequação do espaço, de forma a poder albergar os dois projectos (Centro da Juventude de Gouveia e "Marra Sulada");

15. Paralelamente, o mesmo presidente assinou um acordo em que assumiu o "compromisso com a ACCVE em atribuir-lhe um terreno na região do Alto Gouveia e em autorizar-lhe a construção de um centro multi-usos naquela localidade";

16. Na mesma carta, reiterou ainda "o seu interesse em continuar a reforçar os laços de cooperação e parceria com a ACCVE";

17. Entretanto, os contactos entre os dois foram sempre informais em que o Presidente da CMRGS garantia-lhe sempre que não havia motivos de preocupação;

18. Todavia, e surpreendentemente, a 8 de Fevereiro do corrente ano de 2011 o mesmo Presidente, Manuel de Pina, vem solicitar por escrito a "desocupação imediata (...) e entrega das respectivas chaves", desta vez para albergar o "centro infantil de Gouveia";

16. Nesta sequência, a fechadura do centro foi inclusivamente retirada por funcionários da Câmara Municipal!!!

16. Caros parceiros e parceiras,

17. Facilmente poderão compreender a desorientação e revolta que tal missiva provocou no seio das mulheres da "marra sulada";

18. De forma unilateral e intempestiva, o Presidente da Câmara pretende que as mulheres abandonem o seu local e os seus meios de trabalho, seu sustento, e o das suas famílias, sem que se lhes dê uma alternativa - o risco de vermos estas mulheres novamente a dedicarem-se à apanha (ilegal) de areia é por demais real;

19. Revoltadas e cientes da importância do seu "ganha-pão", as mulheres encontram-se "barricadas" no Centro há cerca de dois dias, para que os seus bens de produção não sejam esbulhados;

20. Este é um projecto que não beneficia apenas as mulheres directamente abrangidas pelas actividades alternativas geradoras de rendimento, mas toda a comunidade da Ribeira Grande de Santiago - é, precisamente, considerado um projecto-sucesso que tem inspirado muitos outros (por todo o Arquipélago!);

21. Pretendemos, por esta via, sensibiliza-los/as a apoiar estas mulheres e este projecto para vermos, em conjunto, que solução e que tipo de apoio imediato e sustentado pode-lhes ser dado;

22. Com efeito, pedimos a todos e todas que se posicionem ACTIVAMENTE: enviando missivas, reencaminhando este email, fazendo declarações, dando apoio jurídico e apoio moral e presencial a estas mulheres; outrossim, buscando soluções alternativas e sustentáveis que possam albergar este tão acarinhado projecto.

Sem mais de momento, grata pela atenção, disponibilidade e solidariedade, envio, desde já, as minhas mais cordiais saudações. Atenciosamente,

Claudia Rodrigues
Presidente do ICIEG

P.S: A responsabilidade também é nossa...

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Achismos pós-eleições

Decorria o ano de 2006 e o então Primeiro-Ministro de Cabo Verde, José Maria Neves, assume como uma de suas bandeiras prioritárias a promoção da igualdade e equidade de género. Aliás chama para sua responsabilidade directa a questão da integração da igualdade de género nas políticas e nos planos sectoriais e reforçar a capacidade/participação das mulheres na política. Juntamente com órgãos públicos e ONG’s desenvolvem um extenso programa de capacitação das mulheres, quer no âmbito pessoal, quer no âmbito profissional. Foi assim realizado o segundo PNIEG (Plano Nacional de Igualdade e Equidade de Género), um importante instrumento político, estratégico e multissectorial, que compreende seis eixos prioritários: A Educação para a Igualdade, Saúde Reprodutiva de qualidade para Mulheres e Homens, Oportunidades Económicas para as Mulheres, Participação e Liderança Paritária, combate à VBG e Comunicação Social aliada das Questões de Género. Dos resultados da aplicação do plano, destaco aqui alguns positivos: houve um aumento de mulheres no parlamento de 11% em 2001 para 18% em 2006 e no governo um aumento de 20% em 2001 a nível de Ministérios para 60% em 2006; houve um aumento da escolaridade obrigatória de 4 para 6 anos, permitindo que rapazes e raparigas pudessem em condições de equidade e de igualdade ter maior acesso ao ensino básico universal e gratuito; o Programa Nacional de Saúde Reprodutiva, PNSR (2002), integra a dimensão género nas suas acções, buscando trabalhar com os homens, que até então estavam ausentes das políticas de saúde sexual e reprodutiva, como resultado temos um aumento da esperança de vida à nascença dos Cabo-verdianos e das Cabo-verdianas em 5 anos, diminuição da mortalidade materna e infantil, diminuição do índice de fecundidade sintética de 4 filhos por mulher na década de 90 para 2,4 na década de 2000; aumento da proporção das mulheres chefes de explorações agrícolas (regadio e sequeiro), aumento do vínculo das mulheres com a administração pública, as empresas privadas e as empresas públicas.

Mais tarde aprova-se em Conselho de Ministros o PNCVBG (Plano Nacional de Combate à Violência Baseada no Género), vem complementar o PNIEG, visto que segundo o mesmo em Cabo Verde constatam-se desigualdades profundas de género e as taxas da violência baseadas no género são muito elevadas. Cerca de 1 em cada 5 mulheres declara ter sido vítima de pelo menos um episódio de violência doméstica nos últimos 12 meses (22%), incluindo violência física, emocional ou sexual (19% das mulheres refere mais de um tipo de violência). Normas culturais persistentes relacionadas com as funções sociais tradicionais atribuídas a homens e mulheres são um obstáculo quer na prevenção da VBG, quer na resposta a situações de VBG, na medida em que naturalizam os comportamentos agressivos dos homens em relação às meninas e mulheres, como parte integrante da sua masculinidade, e inibem a denúncia. Assim o documento centra-se mais na questão da prevenção da violência de género, no desenvolvimento do processo jurídico-penal e criação de organismos de apoio e atendimento à vítima, define várias linhas de acção de combate à VBG, de entre elas a prestação de serviços de apoio às vítimas e melhorar a justiça legal e de género, ou seja mecanismos que garantem que os autores são atempados e eficazmente apresentados perante a justiça. Em termos de prevenção, campanhas foram levadas a cabo, principalmente porque apelaram para fazer quebrar o silêncio sobre a violência baseada no género e tiveram um enfoque a nível comunitário as actividades de sensibilização no aumento da conscientização dos direitos humanos das mulheres.

Ultimamente, foi aprovado na Generalidade e na Especialidade a Lei VBG, que torna o crime Violência Baseada no Género um crime publico.


Tudo isto para vos dizer que quem decidiram as eleições em Cabo Verde foram as mulheres. De uma forma ou de outra as mulheres formaram o publico-alvo do governo e das politicas implementadas do Governo de JMN. Mesmo sabendo que ainda falta um longo caminho a percorrer, ficaram por desenvolver vários tantos outros projectos que beneficiariam ainda mais essa camada desfavorecida da população. Será que foram as mais beneficiadas?

Mas quem é essa camada desfavorecida/vulnerável da nossa população? As mulheres. Vamos aos resultados do PNIEG outra vez: o número de agregados familiares chefiados por mulheres é cada vez maior, são elas quem assumem por inteiro as responsabilidades da sobrevivência familiar, e o peso exclusivo da manutenção dos laços da família, pelo que ficam expostas a uma sobrecarga de tarefas, e a uma sobrecarga emocional; a descida da taxa de actividade entre elas é maior que entre os homens e suportam um maior índice de desemprego; as obrigações domésticas e a exígua oferta de serviços sociais de apoio, impõem limites às oportunidades oferecidas às mulheres no mercado de trabalho já que o cuidado da casa e da família, e as situações adversas como doença própria, de um filho ou familiar dependente, agravam a sua situação; no que diz respeito à protecção social a situação é preocupante, visto que maioritariamente as mulheres se concentram no sector informal, tem empregos irregulares, e salários menores pelo que diminuem a participação nos esquemas de contribuição, o que lhes dificulta o processo de adesão e de obtenção dos benefícios da protecção social; em relação à participação das mulheres no exercício do poder, existe um profundo desequilíbrio, estando as mulheres, em termos de participação nos processos decisórios, numa posição de franca desvantagem; Um carácter sistémico das desigualdades de género, tanto no espaço público como privado; vulnerabilidade da situação das mulheres pobres chefes de família, o que impacta negativamente a sua auto -percepção, e dificulta a sua participação nos processo de tomada de decisões. Resumindo persiste ainda uma discriminação clara das mulheres, uma subalternização das mulheres quer nas esferas publicas, quer nas esferas privadas (só vermos os lugares elegíveis que se posicionaram as mulheres nas listas), nos domínios económicos e social.

A meu ver a estratégia montada pelo Paicv para estas eleições foi montada à cinco anos atrás com muita precisão e que resultou, plagiando o Sr.JMN, "numa vitória histórica".


Não obstante isso, deixo aqui uma pergunta, as mulheres foram decisivas na escolha d@s representantes da Nação, mas serão elas decisivas em relação às políticas/leis/pastas a serem aprovados no Parlamento? Refaço a pergunta o empoderamento das mulheres está reflectido no acesso, no beneficio e no controle!?