quinta-feira, 1 de julho de 2010

Diário de Viagem (III)



El Salvador, 9 de Setembro de 2009 – 08h:09 hora local

Hoje aprendi que uma bebida típica de Honduras é feita de à base de cana-de-açucar, utiliza-se o mesmo processo para se fazer Grogu, mas o mais curioso é nome da bebida, Guaro. Bem semelhante, não!?

Salvador, ou melhor San Salvador é uma cidade tipicamente latina, ou seja contempla tudo o que caracteriza uma cidade latino-americana. Uma multidão nas ruas, nos centros históricos, construções imponentes, igrejas, catedrais com estórias intensamente vividas, praças, monumentos, muito movimento, muito comércio ambulante,etc…
Logo no primeiro dia que saí com Hector (chileno) e Nestor (salvadorenho), que trabalham no Centro Bartolomé de Las Casas, visitei o Palácio Nacional (hoje transformado em museu), a primeira Catedral, a Praça da Liberdade, a igreja matriz, e mais algumas praças e igrejas que já não me recordo os nomes. Cada um dos lugares frequentados fiquei com a forte sensação da existência de uma identidade enorme presente entre os lugares a historia daquela cidade, ou mesmo daquele país. Pairava no ar uma certa fascinação.
O Palácio do Governo, já serviu de “Casa do Governo” ditador, hoje é um enorme museu imponente no centro histórico da cidade, bem em frente a uma também enorme praça, onde as pessoas se encontram, conversam, ao som de uma mistura de musica, sons dos carros, sons dos vendedores ambulantes, etc..
A primeira Catedral, que é por acaso relativamente nova, tem uma história amarga, tocante. Arrisco a dizer que devido à forte presença religiosa, católica por assim dizer, e também devido as guerras nos países latino americanos, todas as igrejas, catedrais têm uma história semelhante.
Nos anos 70, quando começam as primeiras manifestações contra o regime ditatorial, acontece uma passeata pelo centro histórico da cidade. Inicialmente, uma manifestação pacifica, de populares que reivindicavam seus direitos. Quando os manifestantes chegam à Praça da Liberdade (ironia), o exército começa a disparar contra a população indefesa. A população desesperada se refugia na Igreja El Rosario (a Catedral). Conseguem recuperar alguns corpos de pessoas que tinham sido atingidas pelas balas do exército, levando-lhes para dentro da igreja. Aí ficam por algumas horas, sem poder sair, receando o exército que se encontra do lado de fora aguardando a saída dos manifestantes.
Sem saída, tiveram que enterrar seus companheiros (21 pessoas entre mulheres e homens), aí mesmo dentro da igreja. Só vieram a ser descobertos muito tempo depois os cadáveres, mas aí permanecem sepultados até hoje.
A igreja El Rosario, durante anos a igreja passou por várias reformas, primeiro devido a terramotos, segundo para obedecer os preceitos do Vaticano. Uma disposição redonda, com uma abóbada representando desta forma um sentido não-hierárquico, no qual as decisões são tomadas em consenso, em circulo.
Em frente à igreja, a Praça Liberdade, aqui os governos “empossados” faziam sua “apresentação” ao público e depois seguiam para a igreja para uma cerimónia sagrada. Para a benção divina.
Curiosamente, depois do massacre com os populares, nunca mais um governo celebrou qualquer cerimónia quer na praça, quer na igreja.
A Igreja Matriz (a Metropolitana), também tem uma história envolvente e dramática. Oscar Romero é parte integrante desta história. Mas voltarei com mais detalhes.

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