sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Diário de Viagem (II)



El Salvador, 8 de Setembro de 2009 – 21:03 hora local

Depois de um dia cheio de actividades, jogos e reflexões pessoais, estamos neste momento numa Tertulia (uma roda de conversa). A convidada de hoje é Deyse Cheyene da IMU (Instituto de las Mujeres). Uma salvadorenha ex-combatente da guerra civil nacional dos anos 80. Veio nos transmitir um pouco de sua experiência como defensora dos direitos humanos no geral e em particular das mulheres, em diferentes perspectivas e contextos. Pré golpe de estado, durante a guerra civil, pós-guerra civil, ditadura e democratização. Também irá nos fazer um balanço dos 100 dias do Novo Governo. Vamos isso? Diz ela:
“Durante a guerra civil, a ditadura, o papel dos movimentos são vistos de alguma forma como aliados. Alias fortes aliados. Todos lutam por um objectivo. O movimento feminista não fica atrás neste intuito. É hora de unir forças e combater uma ditadura fascista. Contudo o que acontece ao alcançar o objectivo final é o que acontece quase sempre em lutas revolucionárias: os movimentos sociais, todos sem excepção são simplesmente esquecidos. Me deparo aqui por minutos, tentando encontrar uma explicação para tal, mas não tenho sucesso. A única que me vem à cabeça é esta: simplesmente esquecidos.
O movimento feminista de repente, se vê (particularmente), sem rumo, sem direcção, sem uma bússola. E agora!!?? A participação na guerra considerada notória não é reconhecida. O sentimento é de que depois de 12 anos de luta, combateram por direitos de outrem e não do conjunto ou quiçá de si próprios.
Daí a luta que terminara teria que recomeçar, agora procurando seus próprios direitos e sair do plano secundário (nem isso), plano de esquecimento.
O fim da guerra sempre vem acompanhado de, digamos, vantagens e desvantagens. Prós e Contras. Esperança, liberdade, receio, angustia, etc. Uma mescla de sentimentos.
El Salvador passa a ser governado por uma ideologia de ultra-direita, burguesia emergente. Na linha do que está acontecendo no mundo na época (década de 90), o governo exerce uma politica neoliberal forte, com direito a “apadrinhagem” do Banco Mundial. Considera esta instituição que o exemplo de El Salvador devia ser seguido por todos os países da América Latina.
Nisto, como a própria história mostrou, Salvador atinge índices de pobreza extremamente baixos, níveis preocupantes de discriminação social, aumento do narcotráfico, aumento da violência, chegando a ser uma das cidades mais violentas da América Central, abandono escolar, prostituição. Todos esses índices têm maior incidência sobre as mulheres do que nos homens.”

A situação melhorou bastante, consideravelmente, considera Deyse. Tudo fruto de um trabalho implementado de forma estratégica e organizada. Sessões de auto-estima, de mudança de paradigma entre outros, contribuíram para tal.

Sem comentários: